segunda-feira, 7 de abril de 2008

Economista analisa a crise dos EUA


O mundo está diante de um momento histórico conturbado para a economia norte-americana. A crise imobiliária, que assola o país desde 2006, pode mudar o rumo dos EUA como principal economia do mundo, com a China emergindo como nova força econômica.
A crise é resultado de uma ação ocorrida muito antes de seu próprio início. Em 1993, a mudança na forma de financiamento, com empresas financiando o valor integral dos imóveis, aqueceu o mercado imobiliário norte-americano.


Em 2000, a crise do Nasdaq, com a queda vertiginosa das ações de alta tecnologia, fez o governo norte-americano enfrentar o primeiro revés de sua busca por lucro imediato. "Após essa crise, que destruiu vários trilhões de dólares de riqueza e colocou a economia na rota da recessão, o FED (banco central dos EUA) reduziu rapidamente as taxas de 6,5% para 1,0%, a mais baixa da história. Isso gerou uma liquidez enorme nos EUA e no mundo. O que aguçou a ganância dos bancos, das empresas de hipotecas e das fragilidades institucionais que não foram corrigidas e que permitiram a farra do crédito", constata Hugo Penteado, economista chefe do ABN Amro Asset Management, no mercado financeiro há 20 anos.


Um ano após a crise do Nasdaq, a economia entrou em recessão. O consumo das famílias, responsável por movimentar 72% da economia, diminuiu. Em uma tentativa de aquecer o mercado imobiliário, que contava com uma queda nos preços dos imóveis, as empresas financiadoras investiram no mercado "sub prime" e nas operações de CDO, mas a constante queda nos preços dos imóveis e o crescente índice de inadimplência fez com que o valor das ações imobiliárias despencassem de 50 a 80%, atingindo seu auge em Novembro de 2007.
Como conseqüência, houve um agravamento da recessão e aumento da desconfiança, gerando uma crise de crédito, pois os bancos negavam-se a emprestar dinheiro para outras instituições que detinham ações "sub prime".


As condições para a obtenção de crédito imobiliário ficaram mais rígidas. Com o setor financeiro contaminado pela inadimplência, as empresas de créditos hipotecários faliram. Em uma tentativa de amenizar a crise, o governo baixou as taxas de juros, com o objetivo de controlar a queda dos preços e, mesmo assim, o estoque de imóveis começou a subir.


Assim, o setor imobiliário, que sempre esteve estável nos EUA e que nunca havia tido queda nos preços de seus imóveis, entrou em crise, arrastando boa parte da economia norte-americana junto.


O governo dos EUA vem tomando medidas visando controlar a crise. "São todas medidas emergenciais, como socorro aos bancos e afrouxamento das regras, além do estímulo fiscal e reduções fortes dos juros. Após a crise, deverá ocorrer um forte aperto na regulamentação que talvez impeça os bancos e fundos de investimentos de fazerem enormes alavancagens, cujas perdas financeiras deverão alcançar mais de 1 trilhão de dólares só nos bancos dos norte-americanos", diz Hugo Penteado.Inflação e juros altos impedem o crescimento e desenvolvimento da economia. Além da redução das taxas de juros, o FED vem controlando a economia através de diversas medidas, executando uma política monetária mais rígida, fiscalizando e regulando o setor financeiro.


Os EUA entraram em uma recessão incerta e ainda é impossível fazer qualquer previsão de duração e profundidade. Caso ela seja muito profunda, o mundo pode mergulhar em uma crise também. "Todos os países serão afetados e enfrentarão uma desaceleração de suas economias, mas por conta da existência do forte crescimento dos BRICs (Brasil, Rússia, China e Índia), é possível que isso amorteça o impacto", afirma Penteado.


Ainda segundo o economista, a crise é reflexo da busca imediata de lucro por parte dos EUA, sem a devida preocupação com a sustentação do mercado.

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