segunda-feira, 19 de maio de 2008

Crescimento do mercado imobiliário no Brasil preocupa economistas

O Brasil hoje assiste a uma expansão do seu mercado imobiliário sem precedentes e as conseqüências desse cenário ainda nebuloso já preocupam especialistas. Diante da recente crise norte-americana, que teve como principal motivo o avanço na concessão de créditos imobiliários de alto risco e sem controle fiscal, o setor de imóveis no Brasil está recebendo mais olhares e também mais especulações.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o financiamento imobiliário teve um aumento de 500% nos últimos oito anos. Apesar disso, a concessão de créditos imobiliários em relação ao PIB do país ainda é muito baixa, ficando em cerca de 2%. Para base de comparação, até o ano passado nos EUA, por exemplo, que tem a sua pior crise econômica desde a quebra da Bolsa de New York, em 1929, a concessão de créditos de imóveis atingia cerca de 70% do PIB norte-americano.

Mesmo assim, é impossível negar o poder de decisão de um setor que cresce mais de 500% no período de oito anos. “Quem deve ficar atento com o crescimento do mercado imobiliário no Brasil são os bancos que estão financiando esse crescimento”, acredita o especialista Fernando José Daier, economista do Banco Cruzeiro do Sul.

De acordo com o economista, aqui no Brasil existe uma demanda reprimida para aquisição da casa própria. “Infelizmente o Brasil se preocupou pouco com essa questão e a facilidade do crédito e o alongamento dos prazos de financiamento está fazendo com que as pessoas tomem empréstimos sem a devida avaliação e cautela”, opina Fernando Daier.

Com essa reflexão, fica a pergunta central de todo o problema que isso pode gerar: Será que a economia brasileira ja se encontra num grau de maturidade e crescimento suficientemente bom o bastante para garantir empregos pelo mesmo prazo dessas dívidas?

“Outra questão que preocupa muito e ajuda a construir a complexidade que envolve o setor de imóveis são os juros. Ninguém sabe como ficarão os juros daqui pra frente. E, além disso, para completar, há a inflação, que está começando a dar sinais de subida”, ressalta o economista. Ainda segundo Fernando Daier, não se pode esquecer que temos ainda a segunda maior taxa de juros do mundo, só perdendo para a Turquia.

Antigamente, o mercado imobiliário no país ainda era visto como um “business” certeiro, garantido e promissor. Mas isso era porque a expansão era recente e, portanto, limitada às classes média e alta, pois absorviam a maior parte do crédito disponível. Agora esse cenário mudou. Com a entrada das classes média baixa e baixa devido às facilidades de financiamento, os economistas mais atentos começaram a enxergar o mercado imobiliário com mais cautela.

“O perigo é a dívida. Quando as classes médias e baixa se endividam e a economia não possibilita oportunidades de renda, todo o sistema econômico acaba sofrendo e, com ele, todo o país”, alerta Daier, que completa: “Por esse motivo acho que é importante se preocupar com todo esse crescimento do mercado mobiliário brasileiro. Isso sem falar no mercado de automóveis. Um veículo sequer não dura o prazo que hoje estamos encontrando nos financiamentos. Mas isso é uma outra longa história”, conclui o economista.

Nenhum comentário: